Eu, pai, afoito
De um olhar ensimesmado
E vem à hora e me toma
Quando vejo quarenta anos me passaram
As pálpebras do outono me suportam
Flagelam vozes vorazes por pensamentos
Encobrem a pele de gelo
Eu sinto cheiro de café ou boldo
Dá-se um adeus acanhado
Um abraço apertado, um nó exagerado
Ficarei a te observar de longe
Muito longe até que não te perca
Sei que eu, pai, eu filho, eu ninguém...
Suporto a cruz megera e valente
E turvo meu coração ao engano
Me dou esse direito de não ter que responder
Soam os badalos das gargantas
O fosco pó do ouro me atormenta
Fino como o véu da viúva
Esparrama o céu por vestes violetas
Eu, pai, os nervos à flor da pele
Cismo com o filho desaforado
Sou filho também do cinismo
E cismo quando me é inconveniente.
Pelo autor Marcelo Henrique Zacarelli
Village, Maio de 2012 no dia 12.
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