Marcelo Zacarelli

Marcelo Zacarelli

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19 janeiro 2014

Estrada Km 44


Deveras, o caminho da vida é uma estrada
Infinita aos olhos da criança, curta para o intuito da adulta
Porém, não são os mesmos sóis por ambos os caminhos?
A diferença é que há um, paira no firmamento
Enquanto o outro morre na gula dos seus dias;

Eu acordei criança ainda pelo Km 5
Não me perguntem sobre as páginas da minha meninice
Talvez o pai pudesse-lhes dizer, não fosse desde 2007
Nem pó, nem ataúde, nem projeto de gente;
Quanto a mãe, na qual percorreu esta estrada
Confortável assentada na janela do tempo
Ainda que os sessenta e sete o tomara
Corra! para que os anos não lhe afetem a memória.

Quase sai do purgatório da inocência aos quatorze
Pisando em terra firme, velejei pelos mares desta vida
De certo que eras feminino; eu as mesmo provei
Extraíram-se destes, muito mais sais que prazeres;
A primeira carteira, o primeiro trabalho
E o sol já castigavam as sobrancelhas.

O primeiro amor! O homem só começa a viver quando sonha
Vejamos aqui, que atento em ser breve
Armei as minhas barracas nos acostamentos da longa estrada
Por "Quatro" vezes, nem vi o tempo passar, eu confesso
Quantas águas bebi pelo árduo caminho, não estava sozinho;
Alguns de sangue até que me intrometeram.

O mais estranho desta jornada, é que se mete os pés pelas mãos
Aquela que lhes compromete pô-las os pés na estrada
Anda meia que manquitolando, exibe o vosso calcanhar liso;
A mim me pareço cansado em mapear as rachaduras...
Pensei algumas vezes em estacionar lá pelo Km 30
Mas tinha combustível na alma, e vontade nas pernas.

Ao longo do caminho, quantos mares que secaram
Poeiras que o vento nem sabia se levava, ou se trazia
Até nisto o coração é enganoso, o peso do tempo não perdoa
Carrega a mochila nas costas, mais cheias de pecado que fadiga.

Como poderei saber o fim do meu caminho?
Conheci pessoas velhas, outrora jovens e doravante meninas
Uma espécie de retrocesso, volta no caminho...
Como poderei medir o meio deste meu caminho?
Pois aquele que me esquadrinhou ao tempo
Era ainda pedreiro, assim, sem jeito;
Tento mirar em vão o fim da estrada 
Como se cada amargura que tivesse
Fosse expirar o fim do meu murmúrio.

Entre tantos descuidos fiz uma descoberta
Que a morte não soa tão ruim assim;
Quando a pior das mortes sempre é a solidão...
Eu, que acabo por vence-las; Que o digam as antigas mariposas
As vezes sinto saudades de me ver criança
De ver a face do sol, tão jovem quanto as minhas peripécias
Mas até elas insistem a me virar a face.

Outras coisas boas aprendi na vida
Não que seja moço bom pra dar conselhos
Quem já apagou três lampiões
Não pode ensinar ninguém a escapar da escuridão
Hoje a minha alma entrelaçada
Caiu no alçapão da vida, não quer mais sair.

Dizem-se por aí muitas besteiras
Que a tal morte é que nos traz a liberdade;
Não quero ser livre, tenho apenas compromisso com a vida
Esta estrada que alguém confiou a mim
Tem muito dos seus mistérios, sabe-se lá quantos
Metros ou quilômetros, ainda terei que percorrer.

Parei no Km 44
Não é que me bateu uma vontade de me ver criança
Tem nada não, o final é logo ali
Quem sabe no Km 66
Já possa me ver velho moço
Dali a ser menino é só um pulo;
Como poderei saber o fim do meu caminho?
Espero que seja a morte
Solidão! não, solidão...

Marcelo Zacarelli
São Paulo, 09 de Janeiro de 2014



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